A newsletter Café sem Açúcar é compartilhada gratuitamente e enviada em todas às quintas-feiras. O intuito desse espaço é explorar o mundo por meio da escrita criativa, buscando nas entrelinhas o sentido das coisas.
Compartilho crônicas do cotidiano, reflexões sobre a vida a partir do meu olhar e minha experiência; comento sobre filmes, séries e livros.
Embora pertença ao polêmico grupo social conhecido como "Geração Z", nascido a partir de 1995, eu vivi a era dos disquetes, das fitas VHS e dos DVDs, que hoje estão quase extintos. Assim como também frequentei locadoras, e minha TV era aquelas de tubo com antenas separadas e muito bem equipadas com bombril na ponta -até hoje não sei se existe algum estudo cientifico que comprove que o uso de bombril na antena ajuda em alguma coisa-.
Na minha casa tinha um aparelho com entrada de DVD e para fita VHS. Tínhamos a famosa e icônica fita do Rei Leão verde.
Todas as sextas-feiras, meu pai me levava a uma locadora próxima à nossa casa. Era um dos meus dias favoritos, apesar de sempre me recusar a pegar filmes novos, pois era apegada demais com os que já havia assistido. Para uma criança, a locadora era um mundo de possibilidades. Eu evitava a sessão de terror, pois tinha muito medo, e ficava curiosa para entrar na salinha especial de filmes com mulheres nuas na capa. Era interessante ver como só esses filmes tinham uma sala especial e como a maioria dos que entravam lá eram homens.
Minha relação com os filmes nasceu com meu pai, que até hoje adora ver desenho animado e não perde uma série do universo Star Wars, e minha mãe que teve a brilhante ideia de me levar ao cinema quando eu tinha seis anos de idade para ver Garfield, um dos melhores live action feitos até hoje.
Uma vez, conversando com dois amigos, contei quais eram meus filmes favoritos. Minha amiga disse que não gostou muito de um que citei, ainda assim, listei os motivos que me fizeram amar aquele filme, e foi quando ela disse que a maioria dos filmes que eu gosto são porque se parecem comigo.
Fiquei pensando nisso por alguns dias, resolvi analisar todos os filmes da minha lista de favoritos e todos tinham algo em comum. As histórias eram sempre sobre temas relacionados a autoconhecimento, viagem, amor e solidão. Foi interessante fazer essa análise, porque para além da narrativa, analisei os personagens e começou a fazer mais sentido ainda o que minha amiga havia dito.
A outra curiosidade por trás da minha lista de filmes favoritos é que não são clássicos do cinema. Digo isso porque sou cinéfila e indico filmes na minha conta do Instagram (que está desativada ainda), e as pessoas realmente levam muito a sério minhas indicações rs. E em razão do meu amor e da minhas idas constantes ao cinema, as pessoas esperam ouvir de mim algum clássico, talvez algum filme do Tarantino, Spike Lee ou Scorsese.
Já vi filmes como o Poderoso Chefão, Casa Blanca e Cidade de Deus, mas nunca vi O iluminado ou Cidadão Kane. Acho Tarantino um pouco subestimado, e não achei Bacurau essa coisa toda que disseram por aí. A beleza do cinema é isso, duas pessoas verem o mesmo filme e terem percepções completamente diferentes.
Talvez alguns dos meus filmes sejam clássicos sim, mas nada exagerado, tipo “nossa você tem que ver porque é um clássico do cinema, todo cinéfilo tem que assistir.”
Chega de enrolação e vamos a lista dos meus filmes favoritos. Sabe aquela frase clichê de que somos feitos dos livros que lemos, filmes que assistimos etc…, pois é, não é diferente comigo.

Um dos meus filmes favoritos é "Orgulho e Preconceito", baseado no livro de uma das minhas autoras preferidas, Jane Austen. Eu preciso assisti-lo pelo menos uma vez por ano, é como se fosse um ritual. Adoro a trilha sonora, sou fã da Keira Knightley, que interpreta Elizabeth Bennet. Confesso que hoje, vejo com outros olhos o Sr. Darcy, interpretado pelo Matthew Macfadyen, porque o Matthew fez um personagem completamente diferente na série “Succession”, mais sombrio e traiçoeiro.
Adoro esse tipo de romance de época, revigorante, com cenários deslumbrantes, sotaque inglês e as danças. Sem dúvida nenhuma, de todos os romances de época, esse é meu favorito e ainda não o revi esse ano.
Mas o que o torna tão bom? Jane Austen tem esse poder de construir personagens tão complexos, apaixonados e imperfeitos. Cada um é tão diferente e cheios de convicções, principalmente as personagens mulheres, que são as protagonistas de suas histórias. A construção do drama, os obstaculos e medo, tudo para o casal ficar junto e claro, os melhores finais felizes de casal de todos os tempos são da Jane.
“Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente.”

Eu já citei esse filme algumas vezes em outros textos, inclusive menciono sempre quando falo da minha viagem a Portugal e provavelmente irei citá-lo por mais algumas décadas.
“Comer, Rezar e Amar” tem todo o meu coração. Eu deveria ter uns 19 anos quando vi ele pela primeira vez; estava me adaptando a nova vida em Florianópolis e com algumas dúvidas relacionadas a estudos e carreira, por muito pouco não arrumei as malas e fui viajar o mundo. Gosto de filmes inspiradores, que nos fazem questionar o status quo, mudar a rota, lutar pelos nossos sonhos. Em outra oportunidade faço uma lista com filmes inspiradores.
Já assisti a esse filme algumas vezes, inclusive, li o livro pela primeira vez em janeiro, fiquei ainda mais apaixonada e inspirada. Quase todas as frases do filme levo como mantra de vida, e tem uma em específico, que levei no meu coração quando viajei para Portugal.
“Se você tem a coragem de deixar para trás tudo que lhe é familiar e confortável (pode ser qualquer coisa, desde a sua casa aos seus antigos ressentimentos) e embarcar numa jornada em busca da verdade (para dentro ou para fora) e se você têm mesmo a vontade de considerar tudo que acontece nessa jornada como uma pista, e se você aceitar cada um que encontra no caminho como professor, e se estiver preparada, acima de tudo, para encarar (e perdoar) algumas realidades bem difíceis sobre você mesma… então a verdade não lhe será negada.”

Em outubro de 2023, bem no início dessa newsletter, fiz um texto sobre o filme “Frances Ha” - #3 O que eu aprendi sobre amor, sonhos e amadurecimento com Frances Ha - e conto tudo que me encantou nele, os desafios que a personagem enfrenta e os sonhos que ela almeja alcançar.
Inclusive há nesse filme um dos meus monólogos favoritos - outro tema bom, fazer uma lista com os melhores monólogos em filmes e séries - que fala sobre o amor ideal.
“
Eu quero esse momento. É… é o que eu quero em um relacionamento… o que poderia explicar por que estou solteira agora. É difícil… é aquilo de que, quando você está com alguém e você ama esta pessoa, e ela sabe disso, e ela ama você, e ela sabe disso, mas é uma festa e vocês dois estão conversando com outras pessoas e estão rindo e contentes e você olha para o outro lado da sala e seus olhares se encontram… mas… mas não por possessividade ou nada exatamente sexual, mas porque aquela é a sua pessoa nessa vida. E é divertido e triste, mas só porque essa vida irá acabar, e é também um mundo secreto que existe exatamente ali em público, desapercebido, que ninguém mais sabe a respeito. É mais ou menos como dizem, que há outras dimensões ao nosso redor, mas nós não temos a capacidade de percebê-las. É isso que eu quero em um relacionamento. Ou simplesmente da vida, eu acho. Amor.”

“Begin Again” (Mesmo Se Nada Der Certo), o filme tem como protagonista a maravilhosa Keira Knightley e Mark Ruffalo, e ainda conta com o cantor Adam Levine. É um filme de comédia dramática e musical. A história gira em torno de Gretta (Keira Knightley), uma jovem compositora e cantora, e Dan (Mark Ruffalo), um ex-executivo de uma gravadora de música.
Dan propõe a Gretta gravar um álbum ao ar livre, utilizando lugares diferentes da cidade, alguns instrumentos diferentes e a participação de vários artistas. Eu gosto dessa sensação de “gente como a gente”, de ver personagens comuns e reais, cheios de defeitos, medos e sonhos.
Eu gosto muito da trilha sonora também, é um filme alto astral, ainda que com os dramas da vida.
“Você pode dizer muito sobre uma pessoa a partir do que tem na playlist dela.”.

“Her” é o filme que eu queria desver para ver de novo como se fosse a primeira vez. É um drama romântico e de ficção cientifica, que conta a história Theodore, interpretado por Joaquin Phoenix, um homem solitário que trabalha escrevendo cartas pessoais (uma espécie de ghost writer) para outras pessoas. Ele está passando por um divórcio doloroso e encontra conforto em um novo sistema operacional ( famosa IA) chamada de Samantha (com a incrível voz sexy da Scarlett Johansson). O filme já é vida real porque realmente criaram uma IA com a voz da atriz, mas sem seu consentimento.
Acho a direção de arte desse filme incrível, trilha sonora - sou obcecada por trilha sonora- e claro, as atuações. Não sei se você já soube, mas existe uma teoria muito boa de que esse filme é uma resposta para o filme Encontros e Desencontros da Sofia Coppola, porque Her foi dirigido e escrito pelo seu ex marido, Spike Jonze. Há belas coincidências nesse filme com o dela.
“Apaixonar-se é uma coisa louca de se fazer. É meio que uma forma de insanidade socialmente aceitável.”

“A pior pessoa do mundo” foi indicado a melhor filme internacional em 2022, e como boa cinefila, costumo maratonar os filmes indicados ou com grandes chances de serem indicados. O nome já me cativou de primeira, então fui assistir e me apaixonei.
Ele explora as complexidades da vida moderna e os desafios das relações familiares e amorosas. Julie é uma jovem em busca de si mesma, ela navega por suas incertezas emocionais e profissionais.
Cada escolha que fazemos impacta nossa própria vida e a vida de outras pessoas. Nessa trajetória, corremos o risco de decepcionar alguém ou sermos decepcionados. Isso faz parte da vida, mas até tomarmos consciência de que isso é natural e que, em algum momento, seremos a pior pessoa do mundo para alguém, principalmente para nós mesmos, leva tempo.
"Desperdicei muito tempo me procupando com o que poderia dar errado. Mas o que deu errado nunca foram as coisas com as quais me preocupava."

“La La Land” não tem só o meu coração, mas minha pele. Tatuei os dois dançando no meu braço haha, ficou bem legal.
Lembro de ir ao cinema assistir ao filme sem saber muito sobre o enredo. Quando começou, fiquei apavorada ao perceber que era um musical, pois não gosto de musicais. Porém, o filme é lindo, emocionante e colorido, com uma trilha sonora maravilhosa e um roteiro cativante. Saí do cinema chorando como se não houvesse amanhã. O tal do “e se”.
“Um brinde àqueles que sonham
Por mais tolos que possam parecer
Um brinde aos corações partidos
Um brinde à bagunça que fazemos.
Ela capturou um sentimento,
Um céu sem teto,
Um pôr do sol em uma moldura.”
É claro que, existe a grande chance de você gostar de um filme sem necessariamente se ver nele, e isso não dirá nada sobre você, ou talvez diga, mas só você que ainda não sabe. Por exemplo, minha mãe é obcecada por filmes sobre vingança, que ela fala que é “justiça”, o tal da justiça com as próprias mãos. Ela já viu tudo que é filme que tenha vingança na sinopse, no título, e a maioria desses filmes são muito ruins, mas ainda assim, ela insiste.
Já meu pai não perde uma série de Star Wars, já viu todos os filmes da Marvel e Senhor dos Anéis. Meu padrasto gosta de drama, alguns sobre fatos reais. Um dos seus favoritos é Amarelo Manga.
OBS: a capa dessa newsletter é Kung Fu Panda, porque quando eu era criança eu assistia ele pelo menos três vezes por dia, sem brincadeira. Nunca decorei uma fala sequer.
Agora me conta, qual seu filme favorito?
✍🏻 CONSIDERAÇÕES
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Ah, e sobre os meu favoritos, eu nem sei! São tantos.. talvez Cisne Negro, Mouling Rouge, Forrest Gump, Clube da Luta... vou parar por aqui, ou a lista vai ficar enorme! hahaha
Nossa, eu amo "A Pior Pessoa do Mundo" acompanho tudo do Oscar, e fui assistir ele pensando ser só mais um filme.. e fiquei semanas pensando nele! 💜
Adorei saber da teoria de "Her" ser uma resposta para "Encontros e Desencontros" - agora vou ter que assistir os dois de novo hehehe
Adorei o texto, e nosso que saudade de uma locadora!!!