Esse ano vivi inúmeras experiências, realizei alguns sonhos e entre eles o evento mais importante do ano sem dúvida nenhuma foi minha viagem à Portugal. Eu nunca havia viajado para fora do Brasil, então imagina só meu nervosismo e ansiedade. Juntei todo meu dinheiro, economizei por 12 longos meses, disse alguns nãos no meio do caminho e no fim, deu tudo certo.
A newsletters Café com Açúcar é semanal, então toda quinta-feira chegará no seu e-mail um texto novo, espero que goste :)
SPOILER DA PRÓXIMA NEWSLETTERS: minha retrospectiva de filmes e séries.
Ouça antes, durante ou depois, mas ouça I Follow Rivers de Lykke Li.
Eu estava vasculhando a timeline do meu Instagram e assistindo alguns stores quando me deparei com a foto de um amigo de infância em Florianópolis. Perguntei se ele estava aqui ainda e ele me respondeu “eu moro aqui”. Imediatamente disse que eu também morava e então marcamos de nos ver. Fiquei um pouco ansiosa para reencontrá-lo, porque Nicolas e eu nos conhecemos quando tínhamos apenas 6 anos de idade, estudávamos na Fundação Bradesco em Manaus. Fui embora de lá em 2008, depois voltei em 2019 para visitar a cidade e reencontrar alguns amigos, infelizmente meu tempo foi curto, mas cheguei a encontrar o Nicolas nesse período, saímos à noite, bebemos antártica em um bar, ouvimos música e falamos da vida alheia.
Para minha surpresa, Nicolas morava a cerca de 1 ano no Sul sem que eu soubesse, e quando finalmente o reencontrei, ele anunciou sua partida. Seu chefe lhe ofereceu um emprego em Portugal e ele aceitou. Tivemos pouco tempo desde que descobri sua existência tão perto de mim, saímos algumas vezes e no dia do meu aniversario ele topou ir à praia comemorar comigo. Fomos a praia do Campeche, levei um champanhe e ficamos à tarde toda lá, conversando, bebendo e tomando banho de mar. Ele me olhou e perguntou se eu iria visitá-lo em Portugal, eu disse que tentaria, mas nunca sai do Brasil antes. Ele me fez prometer que iria em Portugal no outro ano, e eu fiz que sim, ainda soltei “partiu Portugal pegar europeus”. Quando passou a euforia pensei em como eu faria para conseguir cumprir essa promessa, eu ainda estava desempregada e a viagem provavelmente custaria caro, pensei que talvez eu tivesse feito uma merda muito grande ao prometer algo que eu talvez não conseguisse cumprir, a questão é que já era tarde, o universo já havia mudado toda sua rota ao meu redor, criou-se uma atmosfera cósmica diante de uma simples promessa, que no final não era tão simples assim, o que antes era um desafio a ser cumprido, se tornou meu destino.
A promessa foi feita no dia 16 de fevereiro de 2022. Embarquei para Lisboa no dia 13 de agosto de 2023. O voo foi longo, mais de 10 horas de Guarulhos/SP até Amsterdã, onde fiz minha conexão e passei pela imigração, ali mesmo começou a euforia e o terror, outro país, outro idioma. Passei pela imigração como quem estivesse entrando ilegalmente, mas ao contrário, eu tinha todos os documentos necessários, eu só não tinha o inglês na ponta da língua. O rapaz que me atendeu era lindo, perguntou porque eu estava viajando e quantos dias, travei nos dias, não lembrava como dizer 14 em inglês, eu poderia ter dito duas semanas, mas quem que lembra nessas horas de nervosismo?! Então mostrei para ele um texto que escrevi no meu bloco de notas que explicava tudo, nele havia uma frase em inglês no final para que eu pudesse saber como dizer que tenho alergia a camarão “I'm allergic to shrimp”. Ele não só leu a frase, como riu e repetiu “I'm allergic to shrimp” olhando nos meus olhos, eu não sabia onde enfiar a cara. Passada a humilhação, fui liberada após receber meu primeiro carimbo no passaporte.
Eu só cheguei em Lisboa às 23:30 do dia 14, peguei minha mala e fui encarar o metrô que disseram que era fácil e era perto do meu hostel. A ficha ainda não havia caído, eu estava cansada demais para pensar, peguei o metrô observando cada indivíduo daquele lugar, quando desci e descobri que ainda precisaria andar mais alguns metros antes de chegar no meu hostel, naquela hora aqueles metros pareciam quilômetros, porque eu não conhecia nada. No meio do caminho um indivíduo me ofereceu pedra, fiquei assustada, mas recusei com educação, eu mal imaginava que no decorrer da viagem eu iria descobrir que isso era normal de acontecer.
É bom fazer um adendo, antes de comprar a passagem para Portugal passei meses monitorando os passos do Nicolas, ele estava morando em Faro, pesquisei passagens para lá e era até mais barato, depois ele começou a morar em Lisboa, ai ok, eu precisava comprar logo minha passagem e comprei, meses depois o bendito se mudou para Porto porque conseguiu outro emprego, então a viagem passou a ser mais solo, isso não me assustou, me deixou mais curiosa para me ver sozinha desbravando Lisboa e outras cidades de Portugal. Acontece que todas essas pequenas reviravoltas se tornaram fundamentais para minha jornada, se eu tivesse comprado minha passagem para Porto, eu não teria me redescoberto e nem me apaixonado.
Passei três dias turistando em Lisboa até ir para Porto ver meu amigo. Fui de ônibus, viagem rápida. Descobri apenas no dia da minha chegada que ficaria hospedada na casa das gêmeas com quem também estudei na Fundação Bradesco em Manaus. Tínhamos 6 anos. Infelizmente uma estava na lua de mel e a outra viajando, encontrei apenas a primeira, mas muito brevemente. Antes de chegar em Porto avisei ao meu amigo que não queria ir embora de Portugal sem antes beijar na boca, era questão de honra e de preferência gringo. Eu havia chegado em uma sexta, saímos nesse dia, conheci vários bares, a vida noturna em Porto é diferente de Lisboa, vi mais diversidade e gente animada como no Brasil. Naquela noite eu bebi absinto, tequila, vodka com absinto, mas nada disso me derrubou. O que me derrubou foi o sono. Fomos por último à uma balada gay, ótima por sinal, mas não lembro o nome. Conheci vários amigos do Nicolas, mas não sei onde que estava na cabeça dele que haviam heteros naquele lugar, eu mesma não identifiquei, sou péssima com essas coisas. Dancei até que meu relógio biológico começou a tocar, fui embora as 3 da manhã, sozinha. Nicolas estava em narnia, resolvi deixá-lo.
O sábado foi mais parado, estava nublado, saí para turistar sozinha enquanto meu amigo trabalhava e a noite fomos a um restaurante comer uma refeição típica de Porto “francesinha”, uma espécie de sanduiche recheado com bife, linguiça, presunto etc. Muito bom, super recomendo se você for em Portugal. Nós resolvemos poupar nossas energias e não voltamos tarde para casa, porque domingo a previsão era de sol e passaríamos o dia inteiro na rua, até que finalmente eu conseguisse o bendito beijo.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fc985db29-8a2c-421f-aa7f-1239698eab57_1087x1280.jpeg)
O domingo estava ensolarado, lindo e muito quente. Porto é uma cidade encantadora, os prédios antigos são conservados. Inúmeros pontos turísticos. Muitas pessoas também de um lado para o outro. Resolvemos ver o pôr do sol em um lugar que dava uma vista panorâmica do rio e da cidade. Pedimos uma garrafa de vinho, fomos muito bem atendidos, um rapaz alto interessante -garçons/barman costumam me interessar-. Depois de idas e vindas dele atendendo mesas, resolvemos questionar de onde ele era e para minha péssima sorte, ele era do Paraná e tinha 22 anos. É aquela coisa, você viaja para outro país e acaba com um brasileiro. Dito e feito, rolou um beijo, parecia coisa de adolescente, não saímos depois porque ele tinha que terminar de trabalhar e eu iria para outro bar do amigo do meu amigo. Já neste outro bar, encontrei um barman muito bonito, dessa vez era português, ótimo. Mas eu estava naquela fase sem ir muito direto ao ponto, então tentei dar sinais, talvez a minha sorte seja que ele também estava interessado, porque meus sinais são uma merda. Então no final daquela noite beijei um europeu, eu só não contava que ele vendesse dorgas (risos de nervoso). Inclusive me perguntou se eu queria algo, perguntei o que ele tinha -para os amigos do meu amigo- e ele disse: tudo.
Tenho os dois no Instagram e descobri que o português parou com as drogas e está muito feliz com essa nova fase. O paranaense está passando o final de ano no Brasil, espero que não venha pra floripa (risos).
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fd4cc0cec-2323-4184-8a79-d4e09ec29d0d_960x1280.jpeg)
Voltando pra Lisboa, ainda me restavam 6 dias, o qual desfrutei muito bem, mandei mensagem para o irmão de uma amiga que morava lá, marcamos de ver o pôr do sol na sexta e beber antes que eu fosse embora. Tínhamos apostado para ver quem chegaria primeiro sem atrasar e eu obvio, venci. Infelizmente naquele dia não teve pôr do sol, mas teve um nascer de noite bonito.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Ff5ad3b0a-930e-4ad9-8150-7272f3ff3455_960x1280.jpeg)
Resolvemos comer antes de começar a encher a cara e perguntei se ele havia chamado mais algum amigo para nos acompanhar naquela noite e ele fez que sim, confesso que tive curiosidade de perguntar quem eram, pois já havia stalkeado um no Instagram dele e achado interessante, mas não tinha certeza se era bonito mesmo, precisava ver de perto. Algumas horas depois eles chegaram, eram dois rapazes, um de Natal/RN e o outro, para minha sorte, de Blumenau/SC. Por uma questão de afinidade regional, me aproximei do nordestino. Nortista e nordestinos possuem semelhanças de comunicação. Eles perguntaram o que eu queria e eu disse que queria conhecer os bares, a vida noturna, queria dançar, queria encontrar um lugar que pudesse tocar i follow rivers para dançar. A partir daí iniciamos uma maratona que acabaria apenas as 6 da manhã. Fomos de bar em bar, sempre bebendo uma cerveja e indo ao banheiro -em toda minha viagem á Portugal, conheci todo tipo de banheiro, sou muito mijona-, infelizmente não achamos nenhum lugar que tocasse essa música, mas paramos em uma balada que fecharia em 15 minutos, entramos só para dançar aqueles últimos minutos, quando o rapaz no qual eu tinha certo interesse chegou no meu ouvido e disse que estava afim de mim, o bendito sulista. Fiquei envergonhada no momento e com dúvida, não tinha tanta certeza assim do meu desejo, adiei o beijo porque queria aproveitar aquele momento dançando com os meninos. Logo depois, lá pelas 5 horas da manhã, fomos para a beira do rio tejo, cada um havia comprado uma cerveja e colocamos para tocar no celular mesmo a música i follow rivers. Aquela noite foi especial, os meninos foram muito gentis e engraçados, para mim não é difícil me enturmar. Meu amigo estava com fome e o único lugar aberto naquela hora era o McDonald’s, não havia Bolt disponível, que é o Uber deles. Fomos a pé, era pouca coisa. Eu não estava com muita fome, eu estava curiosa, vi que o bendito não iria comer também e fiquei com ele no banco da praça esperando, dias depois eu descobri que ele fez o mesmo que eu, teria escolhido ficar no banco esperando os meninos só para ficar comigo a sós. Falamos meia dúzia de palavras e depois ele reiterou seu desejo e nesse momento cedi. Nos beijamos naquele banco, naquela praça cujo nome não lembro, era fim de madrugada, início de dia, foi rápido e bom, eu ainda estava envergonhada. Me despedi dos três e fui dormir às 6 da manhã, acordei com a mensagem “queria que tivesse ido embora comigo”.
Eu havia marcado um passeio com uma colega que morava em Lisboa, mas ela me deu um bolo. Fui sozinha e nisso eu já estava conversando com o sulista no WhatsApp. Ele disse que teria ido comigo para Sintra se eu tivesse chamado ele, mas eu tinha acabado de conhecer ele como que eu o convidaria e como eu ia saber que ele teria ido comigo só para passar mais tempo ao meu lado. Ele me convidou para a casa dele da forma mais sem noção possível, e eu mais sem noção ainda, aceitei. Eu entrei naquele apartamento no qual ele mora com meu amigo e o nordestino, mas não imaginava que não sairia tão cedo dali. Foi uma noite especial, a melhor em anos com um homem. Ele colocou uma playlist que parecia ter saído da minha conta pessoal do Spotify, eu conhecia quase todas. Perguntei qual filme ou série ele mais gostava e para minha sorte, tínhamos em comum a série Normal People, a trilogia dos antes e o filme Her. Ele também contou que gostava do senhor dos anéis e que acompanhava os lançamentos da Marvel. Eu estava curiosa quanto a ele, mas ainda me sentia envergonhada, o que é extremamente raro. Nós jantamos pizza na varanda do quarto dele, com direito a uma linda lua, vinho, música e velas. O bendito ainda tinha a ousadia de segurar minha mão e olhar nos meus olhos, me elogiou a noite inteira, parecia coisa de filme. Pela primeira vez não tive dúvida da veracidade das palavras proferidas naquela noite, tudo era muito real e sincero pra mim. Não tive dúvidas das intenções dele. Dos desejos. Das ações.
Era meu último final de semana em Portugal, eu não sai do lado dele por mais de uma hora. Naquele sábado dormi ali e no outro dia mencionei que era meu último domingo, queria aproveitar, ele perguntou se poderia sair comigo e eu fiz que sim. Fui para meu hostel tomar banho e trocar de roupa, ele me encontrou algum tempo depois. Quando ele chegou senti vontade de andar de mãos dadas e isso me deixou mais envergonhada ainda, ele até brincou “você quer andar de mãos dadas comigo Emanuella?” e eu não pude negar meu desejo. Andamos de mãos dadas. Andamos e subimos várias ruas e escadas naquela tarde, parávamos para tirar fotos, tomar um vinho e eu, para ir ao banheiro como de praxe. Ele falou de mim nos grupos do WhatsApp dele, mandava foto, pedia para tirarem foto da gente, tudo isso era muito novo e surreal. Naquela altura eu não conseguia pensar em nada direito, apenas em como tinha sonhado em momentos como aquele. Eu estava presente. Não pensava no antes e nem no depois, logo esse último que seria o mais dolorido. Tudo me lembrava muito o primeiro filme da trilogia dos antes, “antes do amanhecer”. No nosso caso era antes das 16 horas de segunda-feira.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fcac8a88f-5ecd-4305-aad7-24d07b0052ee_828x1088.jpeg)
Aquele domingo estava perfeito, todos os meus dias em Portugal foram perfeitos. Vimos o pôr do sol, estava quente, só não mais quente que meu coração. Eu adoraria dar detalhes, contar os diálogos, as cenas, as músicas que ele tocou para mim, as risadas, o toque, os beijos, mas isso eu vou deixar para contar em um livro.
A segunda-feira chegou, o despertador dele tocou, fiquei com preguiça de levantar, naquela manhã eu queria desesperadamente não sair daquele lugar nunca mais, mas o fim estava próximo, precisava fazer check out no hostel, tinha coisas para arrumar na mala, nessa hora me arrependi de não ter levado minhas coisas para a casa dele. Tomamos café, nos tocamos pela última vez, e na hora de eu ir embora, fomos em uma loja perto da casa dele, não fazia ideia do que ele estava fazendo, mas vi que ele tinha pegado um caderninho preto e uma caneta azul, comprou e não disse nada. Voltamos para o prédio, mas nesse caso não subimos, eu havia pedido o Uber vulgo Bolt já. Ele estava escrevendo no caderninho. Quando terminou ele me entregou e disse que era para eu começar a escrever meu livro, as histórias que eu tanto tinha vontade de escrever. Nem conseguimos nos abraçar direito, havia tão pouco tempo, foram três dias ao lado dele, mas era pouco, poderia ter vivido mais, mas também poderia nem sequer tê-lo conhecido, se o Nicolas não tivesse se mudado inúmeras vezes, se eu tivesse decidido viajar para outras cidades, mas eu fiquei ali, coincidência ou não, tudo aconteceu como tinha que acontecer. Foi como eu disse no começo, quando eu prometi ao meu amigo essa viagem, o universo já havia mudado toda sua rota ao meu redor, algo mágico estava se formando, o que antes era um desafio a ser cumprido, se tornou meu destino.
Fui embora de Portugal, mas Portugal nunca foi embora de mim. Voltei mais apaixonada por mim e corajosa o suficiente para ir em busca dos meus sonhos como escritora.
Quando voltei para o Brasil, finalmente comecei a pensar e refletir sobre tudo que vivi naqueles dias e tive certeza que eu estava completamente apaixonada pelo bendito sulista.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F3d5f1cf2-8417-43c4-a525-2e03d4191493_1134x1280.jpeg)
😉 RECOMENDAÇÕES
Assista:
Normal People disponível na Lionsgate+
Trilogia dos Antes está disponível na HBO max
Her disponível na Netflix
Se você tiver curiosidade para ver mais fotos e vídeos da viagem, sugiro conhecer meu Instagram EmanuellaaBarross
✍🏻 CONSIDERAÇÕES
Café com Açúcar foi criado com intuito de explorar o mundo por meio da escrita criativa, buscando nas entrelinhas o sentido das coisas.
Se inscreva para receber em primeira mão meus textos novos.
👀 LEIA TAMBÉM