A newsletter Café sem Açúcar é compartilhada gratuitamente e enviada em todas às quintas-feiras. O intuito desse espaço é explorar o mundo por meio da escrita criativa, buscando nas entrelinhas o sentido das coisas.
Compartilho crônicas do cotidiano, reflexões sobre a vida; comento sobre filmes, séries e livros.
Para ser bem sincera, eu não ia publicar nada essa semana. Não queria escrever mais um texto cheio de frases de efeito, nada semelhante a uma palestra apresentada por um coach. Estou, inclusive, repensando um pouco sobre minha escrita e como eu gostaria de continuar com ela. Além disso, estou sentindo falta de falar sobre cinema, mas tenho tido tão pouco tempo para ver filmes, e quando só vejo, é sempre algo repetido, porque estou cansada demais, e quando estou cansada quero ver algo confortável, que eu já conheça. Quando não estou vendo algo repetido, estou em algum bar com as amigas discutindo qual será a próxima mini viagem e porque devemos nos valorizar mais e não aceitar qualquer migalha.
Essa deve ser minha primeira crise relacionada a minha escrita na newsletter, desde que iniciei em outubro de 2023, publicando textos e mais textos, tentando encontrar minha melhor versão e longe de chegar a essa versão. A princípio, minha intenção é aprimorar minha escrita para o meu romance, mas to parada no tempo, e não passei da vigésima página dele. Mas gosto da troca que tenho aqui, tanta gente nova, diferente, de vários lugares do Brasil e até do mundo, tantas boas conexões, mas ainda assim algo vem me incomodando, aquela sensação de que meu conteúdo tá meio “autoajuda”.
Fiquei pensando em um post que um amigo compartilhou no Instagram sobre a diferença entre filosofia e autoajuda. Menciono isso, porque eu detesto autoajuda, ou talvez eu deteste a maioria das pessoas desse meio. Eu já li vários livros cujo gênero era esse e lendo algumas coisas que escrevi, senti que estava andando para esse lado, e acho sinceramente, que não tenho como evitar.
No post dizia que em uma concepção moderna, a filosofia não tem como intuito trazer uma fórmula, receitas ou segredos de como ser feliz, nem sequer consolo para as nossas aflitos. O que ela se propõe é oferecer o “pantanoso terreno da dúvida sistemática”.
A princípio, se algo está tentando te vender soluções para sua vida, é autoajuda. Se, na verdade, ela “te deixa com uma pulga atrás da orelha é filosofia”.
O post inclusive finaliza com uma piadinha, dizendo “isso tudo que eu acabei de falar, por exemplo, é autoajuda”.
Eu sou bem chata com essas coisas de autoajuda, lembro de ouvir Mario Sérgio Cortela em uma palestra que as pessoas sempre perguntam se os livros deles são de autoajuda, e ele falou que não tem como evitar ser taxado disso, afinal, de fato seus livros possuem reflexões e algumas sugestões mesmo. Lembro de ter ouvido dele que não importa, na verdade, se as pessoas gostam e o livro agrega algo na vida delas, por que não ser autoajuda?
Figuras como Mario Sérgio Cortela, Leandro Karnal, Clóvis de Barros são chamados de filósofos no Brasil. Eu diria sofistas. Eles viajam, escrevem livros, dão palestras, compartilham seus conhecimentos e recebem em troca, dinheiro.
Mas hoje em dia, quem não é um pouco sofista? Quem dera poder compartilhar ensinamentos sem pedir nada em troca, está tudo tão caro e por maior que eu queira compartilhar o pouco que sei, preciso do pão de cada dia.
Inclusive, aqui no Substack, há como monetizar as newsletters, mas eu nunca ousei fazer isso porque não me considero alguém com cacique o suficiente para cobrar para alguém ler meus textos. Quem sabe um dia quando eu tiver um pouco mais de autoridade, mas espero não precisar desse dinheiro, gosto de compartilhar as coisas.
A proposito, não deixo de negar minha hipocrisia no assunto autoajuda, até porque vamos ao conceito, autoajuda é se não um conjunto de ideias, soluções, práticas e orientações que alguém aplica em sua vida, e que de alguma forma deu certo, e passa a compartilhar para outras pessoas, que podem se beneficiar nisso, e se por acaso por um grande sucesso, por que não monetizar?
Tenho frequentado cada vez mais o submundo do LinkedIn, e que lugar insano. Tem muita gente atrás de emprego, dinheiro, dinheiro e muito dinheiro. Todos compartilham algum ensinamento, alguma técnica que deu certo e todos curtem, comentam, compartilham, é muito louco.
Me coloquei nessa posição porque quero jobs e dinheiro, claro. Então lá eu sou uma versão mais barata de coach.
Isso me faz lembrar das vezes que fui crítica a autoajuda e aos sufistas. Quando eu era adolescente pesquisei no Google “como se tornar filosofa”, não sei qual foi a resposta, mas tenho certeza que não tenho condições de ser uma, nem sei se tem como ser atualmente, pura e simplesmente, filosofa.
Para quem não ia publicar nada, publiquei um desabafo, uma crítica misturada com autocrítica. Essas são coisas que me incomodam muito, é que nem quando alguém me pergunta se tal filme é bom e se vale a pena ver esse no cinema, cara eu não sei se para você vai valer a pena ou não ver no cinema, porque essa é minha opinião, e sinceramente, eu acho que todo filme deveria ser visto no cinema, mas entendo que os ingressos são caros, precisamos ser seletivos.
As pessoas me procuram para saber sobre filmes, qual assistir, qual o melhor, qual minha opinião, o que entendi do filme. Eu amo, mas, ao mesmo tempo, tenho medo de que as pessoas fiquem presas e satisfeitas apenas com a minha opinião sobre o assunto, e não buscam mais criar suas próprias versões sobre aquilo.
Gostaria que as pessoas pudessem alcançar certo nível de autocrítica ao ponto de consumir todo e qualquer conteúdo, mas nunca seguir cegamente nada, sem antes mesmo pesquisar, ler, compreender, se descobrir, entender o que isso representa para você mesmo.
Escrevi esse texto tão rápido que mal revisei ele rs.
Foi como um e-mail que recebi hoje dando dicas de como escrever a partir da técnica do fluxo de consciência, que consiste em narrar o complexo processo de pensamento humano, ou melhor, escrever o que vem a cabeça, sem julgamento, se tá no passado, futuro, presente, não importa, só escreva o que vier a mente.
Do mesmo jeito que o post do Instagram que meu amigo compartilhou, eu finalizo esse texto sendo mais um Autoajuda, que nem sei no que exatamente ele ajuda.
✍🏻 CONSIDERAÇÕES
Café com Açúcar foi criado com intuito de explorar o mundo por meio da escrita criativa, buscando nas entrelinhas o sentido das coisas.
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😉 RECOMENDAÇÕES
Hoje irei recomendar outras newsletters que acompanho sempre e que me inspiram a ser melhor por aqui.
Já refleti muito sobre essa linha tênue entre autoajuda e filosofia também. Mergulhei nos videos e ensinamentos da Lúcia Helena Galvão e foi ficando mais claro. A diferença pra mim, hoje, está em autoajuda ser uma coisa quase imposta: "se você não fizer isso, não terá x, y ou z". Filosofia é mais provocativo, te faz crescer e refletir. Precisamos muito dela :)
Achei bacana tua reflexão - que bom que você a publicou. Entrar em crise com nossa escrita é normal - e acho que bom, porque significa que ainda refletimos sobre as coisas (e reflexão é filosofia).
Escrevo aqui há 2 anos, gratuitamente. Tive alguns bloqueios e simplesmente escrevi. Algumas das melhores edições nasceram assim. Mas nunca me senti confiante para colocar um paywall na News. Estou estudando isso, mas me falta confiança no meu taco. Sei que escrevo bem, mas vira e mexe sinto que sou apenas mais uma. Sei exatamente como é esse seu sentimento. Mas ando pensando que sempre há alguém que vai se identificar conosco e com nossa escrita. Continue! A escrita ajuda a encontrar o caminho.