#59 A gente se apaixona pelos nossos amigos
talvez a melhor maneira de entender o amor é por meio das amizades
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Lembro quando o humorista Paulo Gustavo morreu, a Mônica Martelli deu uma entrevista e falou do filme que eles fizeram juntos, e da relação dos dois de amizade, e ela disse algo muito bonito que me fez pensar em todos os amigos e amigas que fiz nessa vida: “Eu acho que a gente se apaixona pelos nossos amigos, tem pessoas na vida que a gente esbarra, e tem pessoas na vida que a gente encontra.”
Será que no universo da amizade, o amor vem primeiro e só depois a paixão?
Estive em Porto Velho em agosto e tive muitos momentos divertidos e nostálgicos com meus amigos de longa data. Somos 6 e acumulamos mais de treze anos de amizade. E nesses encontros e conversas, nos questionamos: "Por que ainda somos amigos?”
E a pergunta não tem nada de ofensivo, é mais pelo tempo decorrido, pelo tanto que mudamos e pelos universos para os quais pertencemos que fazem crer que, se nos conhecêssemos HOJE, não teríamos nos unido. Acho que isso se dá pelo fato de que nem todo mundo se permite conhecer pessoas novas com opiniões diferentes, sonhos, condições financeiras e sociais diferentes.
Eu acredito que existe uma beleza na leveza de se fazer uma amizade que eu gostaria que fosse possível também nos relacionamentos amorosos e familiares. Essa falta de expectativa, essa abertura ao novo, ao que nos faz bem, ao que faz sentido e ao que dá sensação de companheirismo.
Você não fica pensando demais se fulano é isso ou aquilo. Não faz grandes pesquisas sobre ela nas redes sociais, se você quer sair com aquela pessoa, você sai. Não importa a beleza, o dinheiro, mas o encontro.
Eu e meus amigos não encontramos nenhuma resposta exata, acho que não há nada além de amor, algo que, embora existam inúmeros conceitos e definições por aí, não tem anda que consiga responder com exatidão o que é esse tal amor, só sei que ele existe, a gente vive ele, sente ele, fala dele.
Quando me mudei para Florianópolis, não tive muito medo de não fazer amizades, porque acreditava que conseguiria fazer algumas. No entanto, foi mais difícil do que imaginei no começo. Eu tinha apenas dezoito anos e nunca havia vivido nada muito marcante na minha vida. Era bolsista em uma faculdade particular, tinha uma aparência diferente, além de sotaque e gírias que não eram comuns por aqui. A xenofobia e as questões sociais e financeiras pesaram bastante.
Mesmo assim, bati o pé e prometi a mim mesma que não tentaria ser alguém que não sou. Antes de firmar qualquer laço, fiz questão de me certificar de que estava sendo autêntica, sem tentar me encaixar no mundo daqui.
Nessa trajetória, fiz amigos em baladas, em churrascos, na sala de aula, no corredor da faculdade, no trabalho, na recepção dos calouros. Conheci pessoas vendo jogo da copa do mundo, em carnaval, em encontro de amigos dos meus amigos e fui juntando tudo.
No fim tenho tanto amigo que às vezes fica difícil dar atenção para todo mundo, isso porque de acordo com uma pesquisa que li, no decorrer da vida a gente vai perdendo amigos e no máximo chegamos a ter seis amigos de verdade, eu contei, tenho pelo menos quatro grupos no WhatsApp com 5 a 6 amigos em cada um deles, talvez não esteja errado rs.
É clichê, mas amigos são a família que escolhemos ter, que nos sentimos mais seguros e abertos para falar de coisas que jamais contaríamos para nossos pais, que não nos julgariam, mas ainda que julgassem, estariam ali mesmo assim, de ombro, braço aberto.
Eu amo a diversidade de amizades que fiz porque todos são tão diferentes, cada qual foi criado de maneiras diferentes, com perspectivas e sonhos diferentes. Alguns gostam de coisas mais glamourosas, outras mais simples.
Amizade não é aquela coisa perfeita, são altos e baixos. Tem conversa difícil. Amizade é dizer a verdade, doa a quem doer. É dizer não vai, mas se for, eu vou continuar aqui.
Amizade é essa coisa tão imperfeita, com conflitos que nunca são impossíveis de resolver. Amizade, que é amizade, deixa qualquer pessoa orgulhosa no chão, porque amolece a alma, o coração.
Tenho amigos dos mais nerds, as mais patricinhas, a amiga da natureza, a odiadora de mato, a amante de corrida, a que prefere ir a um bar beber uma, a que topa ir ao cinema e no pagode depois, a que diz não e a que diz sim para tudo. Tenho a gay a hétero. A de esquerda e a da direita. Tenho os que moram longe, os que moram perto. Os que entraram ontem na minha vida e os que estão há mais tempo do que eu consigo contar.
A vida poderia ser mais leve se olhássemos para o outro como olhamos para o início de uma relação de amizade.
Neste ano, celebrei muito os meus encontros com meus amigos e amigas, celebrei cada conquista deles e eles a minha. Mas também chorei, porque ninguém espera perder um amigo, quem dirá dois. Neste ano perdi dois amigos. O primeiro em pleno carnaval e o segundo nessa ultima segunda-feira. Eu acredito que ninguém espera perder amigos tão cedo, tão jovens. Mas que bom que pude conhecê-los nessa vida e que desfrutamos de momentos bons.
E é por isso que vou citar uma fala que Maria Bethânia disse certa vez:
“Agradecer os amigos que fiz e que mantém a coragem de gostar de mim. Apesar de mim.”.
Obrigada por me conhecer e ficar.
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obrigada por este texto, Emanuella.
perdi uma amiga de vida inteira este ano também. 25 anos de amizade. força para a gente.
Que emoção! Obrigada pela partilha e por me recordar da importância que meus amigos e suas muitas maneiras de estarem na minha vida contribuem para a minha jornada. Gratidão!