#47 Filmes de ficção cientifica são, na verdade, documentários
Ou nós estamos vivendo um filme? Me acorde quando acabar.
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O que considero mais memorável em Interestelar coincide com o que percebo que outras pessoas também lembram: a trilha sonora e a jornada do protagonista em busca de um planeta habitável. A narrativa nos apresenta esses possíveis planetas, sugerindo como eles poderiam ser na realidade, suas características e texturas.
Toda história cinematográfica tem um problema, e naquele caso, o mundo estava sofrendo com condições climáticas extremas que ameaçavam a sobrevivência da humanidade, era preciso encontrar a solução. Mas, não é a isso que nos apegamos no final, né? A gente até nota, pensa “puts, talvez esse seja nosso futuro”, mas depois esquece, porque, afinal, o filme é sobre a força do amor que transcende tempo e o espaço (??????)
No filme Wall-E, minha animação favorita da Pixar, o planeta terra está devastado e inabitável devido à poluição e acúmulo de lixo, o que poderia ser a continuação de Interestelar. O pequeno Wall-E é um robô encarregado de limpar o planeta, tentar torná-lo novamente habitável, enquanto os humanos desfrutam de uma vida tecnológica em uma nave espacial.
Eu poderia listar vários filmes em que a história de fundo envolve uma catástrofe ambiental, mas que, dependendo da trama principal, acaba se tornando secundária, às vezes por escolha do roteirista.
Mas tudo bem, não estou criticando a escolha dos roteiristas, e sim refletindo sobre como alguns assuntos que deveriam ser urgentes acabam se tornando tão pequenos. Como em um trecho da newsletter
, que diz:Esse é o traço mais espantoso do estilo de vida atual deste planeta. O céu mudou de cor. As pessoas mal respiram. E nós? Seguimos calmamente acordando cedo para trabalhar. No almoço com os colegas, quem tem uma rotina comum de escritório pode fazer um comentário do tipo "e as queimadas, hein?" e aí outra pessoa responde "pois é, complicado". Em alguns casos, envolvem falas políticas desastrosas.
Em meio a essas conversas vazias e sem sentido, a vida vai seguindo (ou não). Este é um dos grandes mistérios da humanidade para mim: temer a tragédia tomando uma taça de vinho. Não é julgamento, pode ser bom e pode ser ruim. Só não consigo alcançar o entendimento científico da nossa falta de urgência. Note que falo no coletivo pois também não me movo.
Certa vez, ouvi a frase de que “os filmes de ficção cientifica são, na verdade, documentários”. Fiquei refletindo sobre isso, e foi engraçado que, em seguida, vi uma matéria falando que uma tempestade solar iria atingir a terra e poderia provocar instabilidade no rádio e, até mesmo, mudança da cor do céu, e poderia jurar que já vi um filme sobre isso.
Os roteiristas não são videntes, aquecimento global existe há anos, é mais antigo do que imaginados e talvez um dos assuntos mais ignorados que existem.
Eu gostaria de poder dizer que estamos em um momento em que não é mais necessário ligar a TV ou ler um artigo para perceber o quanto nosso planeta está em crise. No entanto, considerando que meu estado está em chamas há dois meses e, depois de um mês é que foi divulgado isso pela mídia, percebo que, sim, precisamos falar mais sobre isso.
Não quero competir para ver qual estado está sofrendo mais, porém, é triste e revoltante a falta de atenção que determinadas regiões do Brasil sofrem.
Para quem não sabe, nasci na cidade de Porto Velho (PVH), capital de Rondônia. Estive lá no mês de agosto, pois atualmente moro em Florianópolis, onde o céu continua azul.
Enquanto ainda aguardava meu voo de conexão em Brasília, uma amiga mandou no grupo do WhatsApp o seguinte conselho: “aproveita o oxigênio”.
Quando meus amigos reclamavam que o céu estava sempre escuro e que, às vezes, não dava para ver o rio, eu pensei que fosse apenas neblina ou dias nublados. Até me deparar com uma cena apocalíptica.
Contei nos dedos de uma mão só quantas vezes vi o céu azul durante minha passagem de 18 dias. Lembro de dizer que parecia ter dormido em um quarto de fumante, porque essa era exatamente a sensação, como se houvesse alguém fumando ao seu lado o tempo todo.
Nesse período, acompanhei os jogos olímpicos por lá e, nos intervalos, assistia ao jornal local, e percebi que não havia notícias da tragédia que ocorria em Rondônia no jornal nacional. Nem mesmo em sites. A emissora local era mais de 50% do tempo falando sobre queimadas, enquanto nos outros locais não se via nada.
Há tempos que o norte, nordeste e algumas cidades do centro oeste vêm sendo ignorados. Não estou exagerando, sendo vitimista, é um fato. Quando cidades em São Paulo queimaram, a notícia correu nos 4 cantos. Tinha uma matéria correndo no Instagram a cada minuto, e o governo federal imediatamente mandou avião para apagar o fogo.
Quando o RS sofreu aquela tragedia, também foi amplamente divulgado. O que de fato é para ser.
A questão é a seletividade.
O tal do pulmão do mundo está morrendo queimado e asfixiado. Segundo o site IQAir, Porto Velho tem o pior ar do Brasil.
Não bastassem as queimadas, que são, em grande parte, ilegais. O meu estado tem passado pela pior seca dos últimos tempos. O rio madeira, 17º maior rio do mundo em extensão, está tão seco que é possível atravessar a pé.
Não sou o tipo de pessoa referencia em militância no que diz respeito ao meio ambiente, sei que tenho culpa no cartório, mas é preciso falar sobre, ainda mais quando se diz respeito a um estado, uma cidade que o Brasil não parece se importar.
Devido à fumaça, os aeroportos são frequentemente fechados e os voos cancelados ou adiados. Ninguém entra, ninguém sai. É quase como se fosse um tipo de extermínio.
Outro ponto que me deixa intrigada é saber que essas queimadas são criminosas, porque para mim, não faz sentido. “Culpa do agronegócio”, sem dúvida nenhuma, mas onde vivem essas pessoas que fazem isso? Será se elas moram em alguma casa tecnológica que não é atingida pelas fumaças? Eles são imunes ao aquecimento global? O que passa na cabeça de uma pessoa como essa?
Sou a pessoa que está apavorada, mas segue trabalhando em dois empregos, tentando escrever um livro, criando textos para uma newsletter, economizando para um futuro incerto, bebendo uma cerveja e vendo o mundo pegando fogo.
É como na cena de Titanic, o navio afundando enquanto tocam música.
Agora a fumaça está chegando no sul, talvez assim comecem a temer pela vida.
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Eu sou a favor de uma greve em nome do clima. Sério mesmo. Se os trabalhadores de organizassem e ninguém fosse trabalhar, principalmente os funcionários das grandes empresas mais responsáveis por essa catástrofe.. Ah sei lá. Além de eu continuar vivendo a vida tbm fico inventando histórias pra lidar com o fim do mundo.
essa negligência vai nos cobrar um preço alto...