#31 Analisando uma obra sob a perspectiva do tempo
O conflito de gerações conhecendo a série Sex and The City
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Não sou perfeita e meus textos também não. Sei que não tem como agradar todo mundo e ta tudo bem. O texto ganha vida própria, não posso controlar como ele é recepcionado, mas posso tentar entregar o melhor de mim.

Obrigada!

Quando vi Star Wars pela primeira vez, achei estranho os efeitos visuais, os sons e as imagens. Não curti de cara. Mas aí, um amigo me falou: 'Pensa só, esse filme é da década de 70. Naquela época, esses efeitos eram incríveis. Imagina criar naves espaciais e personagens sem os efeitos especiais de hoje em dia.' Foi aí que mudei minha visão sobre o filme e me apaixonei por ele. Realmente, para aquela época, os efeitos são insanos, incrível demais.
O filme Metropolis de 1927, dirigido por Fritz Lang. Quando lançado, foi considerado um marco na história do cinema pela sua visão futurista e aos avançados efeitos especiais para a época. Atualmente, se visto, as pessoas podem achar seus efeitos visuais simples ou até feios, mas para a época, seus aspectos técnicos e narrativos foram inovadores.
Para além dos efeitos visuais, que evoluíram muito, as narrativas e a construção dos personagens também mudaram. Quantos filmes possuem narrativas inaceitáveis nos dias de hoje? Comedias românticas que romantizam comportamentos abusivos. Filmes com piadas ou sátiras com pessoas pretas, ou homossexuais.
Friends, por exemplo, é uma das séries (sitcom) mais assistidas do mundo, tendo estreado em 1994. Há muitas piadas e diálogos datados, ou seja, que refletem o seu tempo, e que se estivesse sento produzida nos dias de hoje, não aconteceria, porque não é moralmente aceitável.
Toda obra é datada, elas refletem questões e valores da época em que foi produzida. Filmes antigos, como os dos anos 90, trazem elementos mais conservadores e preconceituosos. Da mesma forma, é comum que filmes contemporâneos ambientados em períodos passados incorporem elementos narrativos característicos daquele tempo, como uma maneira didática de mostrar como era a sociedade e os costumes da época.
Vou aprofundar em uma obra específica, que tem sido alvo de muitas críticas nas redes sociais das pessoas mais novas, a galera da geração Z. A série Sex And The City foi adicionada recentemente no catálogo da Netflix, atingindo um público maior. A série conta a história de 4 amigas que moram em Nova York, que se encontram com frequência para tomarem drinks, brunch, falar de homens, relacionamentos, e de vez enquanto, falar sobre o trabalho. Assuntos sobre família é algo praticamente impronunciável.
Rolando o feed do eterno twitter, uma pessoa compartilhou a foto da série com a seguinte legenda: ‘nessa série só fala de sexo e homens’. Creio que essa pessoa não tenha traduzido no Google o nome da série.
Segundo a sinopse disponível no Google: ‘A colunista Carrie Bradshaw e as amigas Samantha, Charlotte e Miranda exploram os altos e baixos do mundo dos solteiros em Nova York. Aos trinta e poucos anos de idade, elas são bonitas, bem-sucedidas e, principalmente, unidas por uma grande amizade.’
A geração de espectadores mais novos está fazendo um alvoroço por causa dessa série. Além de comentar sobre coisas que não acontecem de jeito nenhum na vida real, comentam sobre o comportamento da protagonista Carriew (que faz papel de trouxa, mas quem nunca), e do fato de não ter muita representatividade (o que foi também criticado há anos).
Pois bem, o que nem todos percebem é quão revolucionário a obra é para os anos 90.
Sex And The City estreou em 1999 e colocou 4 mulheres adultas como protagonistas para falar de sexo, relacionamento, carreira, corpo, homens. São mulheres solteiras conhecendo outros caras, tendo relações casuais, falando de sexo livremente, compartilhando seus desejos sexuais, falando de masturbação, vibrador, em uma época como aquela em que mais se via mulheres sendo objetificadas na TV do que como ‘heroínas’.
Samantha, por exemplo, se tornou um ícone para várias mulheres, por ser a personagem mais livre do grupo, sem sonhar com casamento ou qualquer relacionamento sério, mas cheia de desejos sexuais, dona de si mesma, e protagonizando inúmeras cenas de nudes nas cenas.
A série também aborda aspectos da carreira de cada protagonista que trabalham com áreas completamente diferentes, sendo independentes e lidando com o machismo corporativo.
A amizade feminina da série é um ponto de extrema relevância, o famoso “manos antes das minas”. Elas também aplicam isso, claro que como em qualquer relacionamento, é cheio de altos e baixos, mas é muito bonito de ver a manutenção dessa amizade, os diálogos e as experiências compartilhadas.
A geração mais jovem tem uma tendência ao anacronismo, e eu me incluo nisso, já que frequentemente recorro a esse mecanismo de defesa. Não vejo problema em discutir certos assuntos para evitar que se repitam no futuro. Até porque, debater sobre o passado e o presente é saudável.
Porém, não devemos atribuir um valor negativo simplesmente porque sua narrativa não corresponde aos valores atuais.
Como em um post da Fabiana Lima, critica de cinema e colunista no Cinemafilia: ‘À época, SATC redefiniu muitas ideias sobre a vivência feminina e guarda uma importância e influência absolutamente inegável. Podemos apreciar uma obra sem sermos necessariamente anacrônicos no nosso olhar, sabendo criticar, sim, mas criticar com a ciência de que tudo é um reflexo do seu tempo.”
A propósito, eu amo Sex And The City. Samantha rainha master.
Dica de série com também quatro mulheres protagonistas, mas, neste caso, mais atual:
A vida sexual das universitárias - Disponível no MAX
Valeria - Disponível na Netflix
✍🏻 CONSIDERAÇÕES
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eu amo SATC!! defendo horrores, pois apesar de todos os pesares e de Carrie realmente ser uma trouxa, foi muito importante para a construção e naturalização da sexualidade feminina. E a questão da amizade entre as personagens é algo muito bonito de se ver, longe daquela ideia que borbulhava na época de rivalidade feminina.
um beijo.
Só li verdades. Eu também adoro Valéria.