#44 Agosto
A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. Férias da newsletter e alguns aniversários em agosto.
A newsletter Café sem Açúcar é gratuita e enviada todas às quintas-feiras. Neste espaço, registro e relato pequenos acontecimentos da vida cotidiana e os transformo em pequenas crônicas e reflexões, tentando buscar nas entrelinhas o sentido das coisas. Também compartilho textos sobre filmes e séries, trazendo análises, dicas e explicações.
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Estive publicando semanalmente há meses sem um intervalo sequer e minhas últimas férias foram em janeiro, ou seja, hora de descantar! Apesar de gostar de escrever, não significa que eu não deseje parar de vez enquanto, afinal, não escrever também faz parte do processo. Então, neste mês de agosto, não haverá nenhuma edição. Estarei em terras rondonienses, que quem não sabe é de onde venho. Também irei viajar sozinha (de novo) e conhecer um estado novo, e claro, já estou ansiosa para escrever sobre tudo isso e compartilhar com vocês.
Quantas vezes uma pessoa consegue viver o fim do mundo?
Digo, aqueles dias que parecem os piores da nossa vida. Aqueles dias ou meses intermináveis, onde tudo dá errado e tudo parece impossível. Como se os deuses e os astros tivessem esquecido da nossa existência e estivessem nos punindo por alguma coisa.
Durante esta minha curta trajetória de vida, vivi incontáveis fins de mundo. Pensei que não sobreviveria a nenhum deles. Afinal, a sensação de fim do mundo é resultado da junção de ansiedade, medo e insegurança. E, como um ser humano 'normal', sempre terei essas emoções.
A melhor parte de tudo isso é que o tal do fim do mundo, no final das contas, se torna passado. E o passado é só mais uma história.
Hoje, quando vislumbro um dia daqueles, logo penso: “Se sobrevivi ao último, também sobreviverei a este.”
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Quando conto o tempo, percebo que o passado, que um dia foi um bicho de sete cabeças, torna-se minúsculo em retrospectiva. As dificuldades que pareciam insuperáveis agora se mostram pequenas e superáveis. É por isso que penso tanto no passado. Não por ser apegada a ele ou por querer repetir algo que já vivi, mas para lembrar das vezes em que acreditei que seria impossível e, no final, mostrou-se possível.
Um problema deixa de ser problema quando se torna passado. E tudo, todas as coisas, vão virar passado, até mesmo este instante.
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A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para a frente. - Søren Kierkegaard
Olhando para trás, percebo que neste mês de agosto, comemoro o aniversário de alguns momentos que, na época, eram quase impossíveis e difíceis de aguentar ou superar.
Em agosto completo 8 anos morando em Florianópolis, a mesma cidade que jurei nunca morar. Quando ainda era turista, me encantei pela cidade, mas não me apaixonei. Ela não se tornou uma obsessão, um objetivo a ser alcançado. Era apenas a cidade onde minha mãe havia escolhido viver com meu padrasto.
A mudança repentina veio após me frustrar por não conseguir nenhuma bolsa de estudos e por um término de namoro. Eu poderia ter feito Economia na federal de Rondônia, porque foi a única coisa que consegui em uma universidade federal. No entanto, estava certa de que deveria fazer Direito, custe o que custasse, mas daria um jeito. Para quem desconhece o universo do Enem, há duas chances no ano para conseguir bolsa de estudos pelo Sisu e Prouni. Já havia gastado minha ficha na primeira tentativa, restava a segunda, que era no meio do ano. Arrumei coragem e apostei as últimas fichas em Florianópolis. Apenas a esposa do meu tio, que era também minha vizinha, sabia. Meus pais foram pegos de surpresa e eu também.
Consegui a bendita bolsa e em dois meses organizei a documentação, me despedi dos amigos e parentes, e fui com a minha passagem só de ida e duas malas enormes para o outro lado do Brasil. Fui, mas carregando comigo a frase “Se nada der certo, eu volto”. Não voltei até hoje, mas tive muita vontade. Os dois primeiros anos foram os mais difíceis, a mudança de cultura e as pessoas do sul são muito diferentes. Me senti muito solitária. Além disso, descobri a xenofobia do pior jeito, disfarçada de pergunta despretensiosa e piada sem graça. Mas aprendi a sobreviver, fiz muita terapia, conheci pessoas incríveis, amadureci e descobri quem eu era no meio de tudo isso.
Pensei que não conseguiria viver em uma cidade que não tem farinha amarela grossa, vatapá, baião de dois, saltenha de frango e o peixe igual da minha cidade. Quando contava para os meus amigos de Rondônia que estava difícil, alguns diziam para eu voltar, era tentador, mas decidi não voltar, para mim é como se isso não fosse possível.
O fim do mundo é um sentimento que passa, mas antes faz barulho, até virar história.
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Em agosto completo três anos que me graduei em direito. Não teve beca, cerimonia bonita, nem pai ou mãe chorando. A pandemia estragou o único momento que mais desejei viver. Queria ver meus pais reunidos. Queria me despedir dos amigos da faculdade e dos professores. Tudo aconteceu na frente do computador, até mesmo a apresentação do TCC. Foi desafiador, foram muitas mudanças ao mesmo tempo. Agora, tudo parece tão distante e menos complicado do que foi na época.
O fim do mundo foi tirar 1 na prova valendo 10 em direito trabalhista e chorar no banheiro da faculdade. O fim do mundo foi ver meus amigos conseguindo estágios e emprego e eu não. O fim do mundo foi pensar que não era boa suficiente em nada. O fim do mundo acabou quando consegui tudo que parecia impossível.
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Em agosto completo 1 ano da viagem que mudou a minha vida. Parece tema de filme ou de livro: A promessa que virou meu destino. Atravessei o oceano atlântico para ver um amigo de infância e voltei encorajada o suficiente para mudar minha carreira e ir atrás dos meus sonhos. Sempre sonhei em viajar para fora do país, mas parecia algo distante financeiramente falando.
É bonito o que uma viagem é capaz de fazer com quem está disposto a viver a viagem, não como uma lista para ser riscada com os lugares que visita, mas como alguém que se permite sentir a cidade, conhecer novas pessoas e comer outras comidas. Quinze dias foram o suficiente para me perder e me achar.
Há um ano me apaixonei pelo cara do caderno preto - para quem leu a edição 36 da newsletter -. É estranho pensar que já se passaram um ano desde que o conheci em uma sexta a noite despretensiosa. O último final de semana da minha viagem foi um dos melhores que já experimentei até hoje. Eu sei que nessa vida irei conhecer muitas pessoas e algumas delas se tornaram amigos e amantes, mas são poucos com quem irei me conectar de verdade, embora não saiba explicar ao certo o que significaria se conectar a alguém, mas eu sei como é o sentimento, porque eu senti e sinto. São esses momentos que fazem a gente acreditar em mágica, destino ou deus. “É preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.” Carla Madeira - Tudo é rio
Agosto é um mês infinito. O fim do mundo é logo ali.
Também é o mês de aniversário da minha mãe rs
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o fim do mundo, na verdade, é o fim de um ciclo. um se fecha e logo se abre outro, com desafios que parecem maiores, talvez intransponíveis. mas a gente sempre dá um jeito. e tudo sempre passa!
“É bonito o que uma viagem é capaz de fazer com quem está disposto a viver a viagem, não como uma lista para ser riscada com os lugares que visita, mas como alguém que se permite sentir a cidade, conhecer novas pessoas e comer outras comidas.” Que lindo! Feliz 1 ano da sua viagem. E boas férias, são merecidas! ☀️